quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Religião x Política


Participei recentemente de uma mesa redonda sobre religião e política na UEM. Vários representantes de muitas religiões compareceram e participaram da mesa redonda. Percebi que poucos sabiam realmente a função política da sua própria religião e confesso que isso me deixou um pouco decepcionado (afinal, qual a função da religião então?!), mas entre discursos deslocados e pregações acaloradas, todos sobrevivemos e pudemos conhecer mais sobre as religiões, embora ainda há aquela nuvem escura sobre nossas cabeças que questiona a função política de tais religiões. Abaixo, publico minha pequena pauta para a mesa redonda.

Um beijo,

Bruno Matsushita


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O foco em estudo é a política e a religião. Ambas estão amalgamadas quanto ao quesito prático, uma vez que a política não pode prescindir plenamente da religião e o discurso religioso tem sim função política.

Para evitar uma luta entre o bem e o mal (ou seja, quem não segue determinadas diretrizes político-religiosas), instituímos a razão e tentamos separar a política da moral religiosa. Maquiavel já disse que a política tem um status próprio e diferente da moral religiosa. Mas isso é possível? Como?

A política também sempre esteve atrelada à violência (seja ela de qual ordem for). Ela, a violência, está presente em nosso dia-a-dia, assim como a política. Algumas pessoas preferem não ver que há miséria humana, machismo, abuso e maus tratos às mulheres, preconceitos e destruição da natureza... Essas pessoas acreditam que sendo apolíticas elas serão automaticamente boas e assim se voltam ao intimismo, ao eu. Mas o inverso é que é verdadeiro. Essas pessoas que se voltam ao intimismo cumprem um papel político também: aliviam a pressão e são anestesiadas por essas crenças. É mais fácil se conformar, entregar a uma divindade o ônus e o bônus. Falta-nos responsabilidade...

E aí entra o ativismo pagão. Nós buscamos nos equilibrar com as forças da natureza e, assim, viveríamos num lugar onde há respeito e dignidade a todos os seres. O Paganismo defende muito as questões ambientais, uma vez que a natureza é a manifestação da divindade e nossa morada. Nós procuramos ser conscientes dessa forma ocidental de viver, onde consumir é mais importante que usufruir. Nós também não tentamos convencer ninguém de nossas crenças, pois pregamos a liberdade de expressão e o Paganismo trabalha com a questão da responsabilidade, você é o responsável por estar onde está e não uma divindade num plano distaaaaaante. Uma andorinha só não faz verão, mas preferimos fazer a nossa parte, não deixamos de fazer o pouco que podemos por não conseguirmos fazer o muito que queremos.

Dizem que política e religião não se discutem, mas gostemos ou não elas estão entrelaçadas em diversos contextos históricos. Podemos falar um pouco sobre a Inquisição (que mais tem a ver com o Paganismo).

Ela foi instituída em 1232 pelo papa Gregório IX e vigorou até 1859. O objetivo principal era combater as heresias. Ela tinha um funcionamento próprio e bastava uma denúncia para abrir um processo, eles davam preferência para processos de delação (anônimos), uma vez que eles também utilizavam a Lei de Talião (o acusador paga se não comprovarem a denúncia).

Quem caía nas mãos da inquisição dificilmente saía vivo, mas os réus poderiam contar com um advogado (que era designado pelo tribunal e deveria ser bastante fervoroso na fé católica), seu objetivo era fazer o réu confessar logo e se arrepender.

As penas para quem fosse condenado eram várias: torturas crueis e a fogueira, mas geralmente todas as pessoas tinham os bens confiscados (isso constituía a base financeira da Inquisição). Assim, a Igreja foi acumulando bens e o Tribunal do Santo Ofício foi ganhando complexidade... Acredito que todos saibam o que aconteceu no fim das contas, então não me estenderei no assunto.

Outro exemplo também foi a perseguição aos judeus em Portugal, mas o fato é que embora pela mentalidade medieval e inquisitorial não fosse a Igreja que executasse a sentença (e sim o Estado), ela era quem julgava, torturava e, indiretamente, matava sem nome de Deus, do Poder e da Política.

Para finalizar, gostaria de dizer que a linguagem religiosa está cada vez mais presente no discurso político porque, por mais laico que seja o Estado, os políticos serão guiados pelos valores fundados em preceitos morais e/ou religiosos. A política não pode prescindir a moral. E a principal moral do Paganismo é: faça o que desejar, desde que não prejudique ninguém.

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