A Nudez Ritual
Por Bruno Matsushita
"A palavra é sagrada. A natureza é sagrada. O corpo é sagrado. A
sexualidade é sagrada. A mente é sagrada. A imaginação é sagrada.
Você é sagrado. (...) Você é o Deus. Você é a Deusa. A divindade
está tanto dentro quanto fora de você.”- Margot Adler
Você é sagrado. (...) Você é o Deus. Você é a Deusa. A divindade
está tanto dentro quanto fora de você.”- Margot Adler
Praticar rituais nu, ou “vestido de céu” como se diz dentro dos círculos mágicos, é uma prática antiga e muito mal compreendida pela maioria dos wiccanianos modernos. Não deixa de ser um assunto polêmico, já que em nossa sociedade impera a noção de que olhar corpos desnudos seja pecado.
Em minhas andanças pelo mundo mágico e pesquisas realizadas com wiccanianos de diversas partes do país (alguns da Europa) e idades, percebi que principalmente no Brasil as pessoas não se sentem à vontade para até mesmo falar sobre o assunto, tamanho bloqueio que temos para com a (não)aceitação do nosso próprio corpo. Entrevistei alguns wiccanianos e pagãos que foram muito bem-humorados ao me responderem sobre o que pensavam a respeito da nudez ritual e irei esclarecer alguns princípios e mal-entendidos que surgiram no decorrer dessas entrevistas e pesquisas.
Estar “vestido de céu” faz referência a estar completamente nu em um ritual. Não o ato banalizado de simplesmente estar nu, mas a parte sagrada, pura, a sensação de estar livre de corpo e alma e fazer parte do todo. Dentro da Bruxaria é comum a prática e rituais cujos participantes se vestem de céu, pois é quando eles se libertam das tensões do dia-a-dia, deixam transparecer o seu verdadeiro eu e podem, finalmente, fazer parte do lugar em que estão inseridos (já que não estão com suas roupas apertadas, desconfortáveis e limitantes).
Aos olhos assustados do praticante moderno, isso pode parecer subversivo, o que é completamente compreensível, já que a cultura cristã está tão enraizada em nossa sociedade que fica muito difícil desassociar os conceitos estabelecidos por ela em nossos juízos. Desde pequeno aprendi não apenas em casa, mas com muitas pessoas diferentes, que cuidar demasiadamente do nosso corpo é considerado vaidade e que vaidade não é uma coisa boa. Talvez vaidade excessiva realmente não seja algo bom, mas somos seres humanos – e seres humanos procuram a beleza em todas as coisas! Acredito que cuidar do nosso corpo é uma obrigação, pois ele é a morada do nosso espírito, a centelha divina que reside dentro de nós. E se não cuidarmos bem dele, quando as cortinas se fecharem e tivermos que pagar a conta, levaremos um susto ao vermos o valor, pois um corpo mal-cuidado é um indicador de que você não aprendeu a lição mais básica de todos aqui neste plano: cuidar de si mesmo. Viemos à Terra justamente para aprendermos a lidar com coisas terrenas! E cuidar do próprio corpo é uma dessas coisas que temos que aprender a fazer, eu, você e qualquer pessoa que seja!
Numa sociedade que cultua um corpo magérrimo, pernas longas e finas, bumbum arrebitado, cintura pilãozinho e madeixas lisas e loiras, é quase impossível atingir esse ideal de beleza. Veja que até agora não tocamos no assunto beleza, e sim cuidados. Beleza e cuidados são duas coisas bem diferentes. Beleza tem a ver com estética, cuidado tem a ver com zelo. Não vamos entrar no quesito de como deve ser a beleza ideal, pois vivemos num mundo enoooorme e a verdadeira beleza está realmente nos olhos de quem vê. Mas é inegável que todos nós somos os guardiões dos nossos próprios corpos e é obrigação de qualquer um cuidar do seu.
Vivemos num mundo que nos vende a falsa ideia de que só existe uma única forma, um único tipo de corpo e um único tipo de cabelo. E o que é pior: nós compramos essa ideia! Não caia nessa... Não existe apenas uma única forma, existe apenas a forma saudável – e isso não se discute, pois cada um tem a sua. O importante é sentir-se bem consigo mesmo, é amar o seu corpo com todas as marcas deixadas pelo tempo, é ver no brilho do olhar de outras pessoas o passado de cada uma delas... É estar ligado com a sua divindade interior.
Fomos criados pela divindade e temos a centelha divina dentro de nós. Nosso corpo é sagrado, é divino. Aceitá-lo do jeito que ele é, é aceitar a Deusa e o Deus em nós mesmos. Postarei em breve alguns rituais que trabalham na linha de auto-conhecimento e autoaceitação do corpo. Gostaria que vocês praticassem os rituais, pois os resultados falam por si mesmos.
No período renascentista, muitos pintores retrataram os encontros misteriosos que as bruxas executavam no meio das florestas, onde elas se apresentavam completamente nuas. No período que compreende a Idade Média também era prática comum nesses encontros as bruxas participarem nuas e com cabelos soltos enquanto recitavam suas conjurações e invocações.
Stewart Farrar em seu livro What Witches Do fala sobre a Carga da Deusa, texto tradicional dentro da Bruxaria wiccaniana que é mencionado em Aradia: O Evangelho das Bruxas, de Charles G. Leland, publicado em 1899. A Carga da Deusa é um texto onde Aradia ensina aos seus seguidores como obter favores de sua mãe, a deusa Diana. Citemos um trecho da Carga escrito por Farrar:
Estar vestido de céu também não tem nada a ver com rituais de Magia Sexual ou orgias muito loucas que rolam soltas nos filmes de Hollywood. Muitos grupos fazem seus rituais nus e executam o Grande Rito, momento em que as energias da Deusa e do Deus se unem para a criação do poder mágico. O Grande Rito pode ser real, quando o sacerdote e a sacerdotisa do coven fazem amor (não confundir amor com sexo), ou simbólico, quando há uma representação da união do masculino com o feminino (através do cálice e do athame). Estar vestido de céu é algo sagrado e não deve ser banalizado com a nossa limitada compreensão acerca de sexo.
Para os bruxos modernos é difícil se libertar completa e rapidamente do conceito de pecado, mas podemos ir mudando em doses homeopáticas nosso padrão de pensamento com exercícios e vivências. Disponibilizarei na próxima postagem uma meditação que nos ajudará a libertar das tensões do dia-a-dia e estimulará o conhecimento do próprio corpo.
Publicado originalmente no periódico mensal A Voz da Bruxaria, edição 05, fevereiro de 2009. Revisado pelo autor em março de 2010.
Em minhas andanças pelo mundo mágico e pesquisas realizadas com wiccanianos de diversas partes do país (alguns da Europa) e idades, percebi que principalmente no Brasil as pessoas não se sentem à vontade para até mesmo falar sobre o assunto, tamanho bloqueio que temos para com a (não)aceitação do nosso próprio corpo. Entrevistei alguns wiccanianos e pagãos que foram muito bem-humorados ao me responderem sobre o que pensavam a respeito da nudez ritual e irei esclarecer alguns princípios e mal-entendidos que surgiram no decorrer dessas entrevistas e pesquisas.
Estar “vestido de céu” faz referência a estar completamente nu em um ritual. Não o ato banalizado de simplesmente estar nu, mas a parte sagrada, pura, a sensação de estar livre de corpo e alma e fazer parte do todo. Dentro da Bruxaria é comum a prática e rituais cujos participantes se vestem de céu, pois é quando eles se libertam das tensões do dia-a-dia, deixam transparecer o seu verdadeiro eu e podem, finalmente, fazer parte do lugar em que estão inseridos (já que não estão com suas roupas apertadas, desconfortáveis e limitantes).
Aos olhos assustados do praticante moderno, isso pode parecer subversivo, o que é completamente compreensível, já que a cultura cristã está tão enraizada em nossa sociedade que fica muito difícil desassociar os conceitos estabelecidos por ela em nossos juízos. Desde pequeno aprendi não apenas em casa, mas com muitas pessoas diferentes, que cuidar demasiadamente do nosso corpo é considerado vaidade e que vaidade não é uma coisa boa. Talvez vaidade excessiva realmente não seja algo bom, mas somos seres humanos – e seres humanos procuram a beleza em todas as coisas! Acredito que cuidar do nosso corpo é uma obrigação, pois ele é a morada do nosso espírito, a centelha divina que reside dentro de nós. E se não cuidarmos bem dele, quando as cortinas se fecharem e tivermos que pagar a conta, levaremos um susto ao vermos o valor, pois um corpo mal-cuidado é um indicador de que você não aprendeu a lição mais básica de todos aqui neste plano: cuidar de si mesmo. Viemos à Terra justamente para aprendermos a lidar com coisas terrenas! E cuidar do próprio corpo é uma dessas coisas que temos que aprender a fazer, eu, você e qualquer pessoa que seja!
Numa sociedade que cultua um corpo magérrimo, pernas longas e finas, bumbum arrebitado, cintura pilãozinho e madeixas lisas e loiras, é quase impossível atingir esse ideal de beleza. Veja que até agora não tocamos no assunto beleza, e sim cuidados. Beleza e cuidados são duas coisas bem diferentes. Beleza tem a ver com estética, cuidado tem a ver com zelo. Não vamos entrar no quesito de como deve ser a beleza ideal, pois vivemos num mundo enoooorme e a verdadeira beleza está realmente nos olhos de quem vê. Mas é inegável que todos nós somos os guardiões dos nossos próprios corpos e é obrigação de qualquer um cuidar do seu.
Vivemos num mundo que nos vende a falsa ideia de que só existe uma única forma, um único tipo de corpo e um único tipo de cabelo. E o que é pior: nós compramos essa ideia! Não caia nessa... Não existe apenas uma única forma, existe apenas a forma saudável – e isso não se discute, pois cada um tem a sua. O importante é sentir-se bem consigo mesmo, é amar o seu corpo com todas as marcas deixadas pelo tempo, é ver no brilho do olhar de outras pessoas o passado de cada uma delas... É estar ligado com a sua divindade interior.
Fomos criados pela divindade e temos a centelha divina dentro de nós. Nosso corpo é sagrado, é divino. Aceitá-lo do jeito que ele é, é aceitar a Deusa e o Deus em nós mesmos. Postarei em breve alguns rituais que trabalham na linha de auto-conhecimento e autoaceitação do corpo. Gostaria que vocês praticassem os rituais, pois os resultados falam por si mesmos.
No período renascentista, muitos pintores retrataram os encontros misteriosos que as bruxas executavam no meio das florestas, onde elas se apresentavam completamente nuas. No período que compreende a Idade Média também era prática comum nesses encontros as bruxas participarem nuas e com cabelos soltos enquanto recitavam suas conjurações e invocações.
Stewart Farrar em seu livro What Witches Do fala sobre a Carga da Deusa, texto tradicional dentro da Bruxaria wiccaniana que é mencionado em Aradia: O Evangelho das Bruxas, de Charles G. Leland, publicado em 1899. A Carga da Deusa é um texto onde Aradia ensina aos seus seguidores como obter favores de sua mãe, a deusa Diana. Citemos um trecho da Carga escrito por Farrar:
Sempre que precisar de algo,
Uma vez por mês, e de preferência sempre que a lua estiver cheia,
Reúnam-se então em algum lugar secreto
E venerem meu espírito.
(...)
E para que sejam livres da escravidão,
E como sinal de que são realmente livres,
Celebrarão os seus rituais nus.
Neles, vocês dançarão, cantarão e celebrarão, tudo feito com música e amor.
Tudo em minha honra,
Pois de mim vem o êxtase do espírito,
Assim como também vem o prazer terreno,
Pois a minha lei é o amor por todos os seres.
Mantenham puros os seus ideais mais elevados.
(...)
Uma vez por mês, e de preferência sempre que a lua estiver cheia,
Reúnam-se então em algum lugar secreto
E venerem meu espírito.
(...)
E para que sejam livres da escravidão,
E como sinal de que são realmente livres,
Celebrarão os seus rituais nus.
Neles, vocês dançarão, cantarão e celebrarão, tudo feito com música e amor.
Tudo em minha honra,
Pois de mim vem o êxtase do espírito,
Assim como também vem o prazer terreno,
Pois a minha lei é o amor por todos os seres.
Mantenham puros os seus ideais mais elevados.
(...)
Como vimos, a nudez ritual representa uma catarse. Uma renúncia aos confortos que o nosso mundo moderno pode nos proporcionar para que nos entreguemos àquilo que a Grande Mãe tem a nos oferecer.
Estar vestido de céu também não tem nada a ver com rituais de Magia Sexual ou orgias muito loucas que rolam soltas nos filmes de Hollywood. Muitos grupos fazem seus rituais nus e executam o Grande Rito, momento em que as energias da Deusa e do Deus se unem para a criação do poder mágico. O Grande Rito pode ser real, quando o sacerdote e a sacerdotisa do coven fazem amor (não confundir amor com sexo), ou simbólico, quando há uma representação da união do masculino com o feminino (através do cálice e do athame). Estar vestido de céu é algo sagrado e não deve ser banalizado com a nossa limitada compreensão acerca de sexo.
Para os bruxos modernos é difícil se libertar completa e rapidamente do conceito de pecado, mas podemos ir mudando em doses homeopáticas nosso padrão de pensamento com exercícios e vivências. Disponibilizarei na próxima postagem uma meditação que nos ajudará a libertar das tensões do dia-a-dia e estimulará o conhecimento do próprio corpo.
Publicado originalmente no periódico mensal A Voz da Bruxaria, edição 05, fevereiro de 2009. Revisado pelo autor em março de 2010.
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